sexta-feira, novembro 22, 2013

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Fazenda Modelo: Novela pecuária

Fazenda Modelo: Novela pecuária, Chico Buarque.
Editora Civilização Brasileira.Rio de Janeiro, 1974, 140 páginas.

Os anos 1970 foram uma espécie de interregno entre as duas principais gerações de escritores brasileiros que se dedicaram aos gêneros fantásticos e, mais especificamente, à ficção científica. Até 1969, tivemos uma boa quantidade de livros escritos pelos autores da chamada Primeira Onda da ficção científica brasileira, carinhosamente conhecida como Geração GRD, ainda que nem todos tenham realmente surgido sob a égide da legendária editora GRD: André Carneiro, Fausto Cunha, Dinah Silveira de Queiroz, Rubens Teixeira Scavone, Jeronymo Monteiro, Rachel de Queiroz, Nilson Martello, Guido Wilmar Sassi, Antonio Olinto, Levy Menezes e muitos outros. Muitos destes não construíram suas obras exclusivamente na fc&c, e no mainstream conquistaram reconhecimento de público e crítica, emprestando prestígio ao fantástico brasileiro.
A Segunda Onda de autores ensaiou seus primeiros passos a partir de 1982 no Boletim Antares, publicado pelo Clube de Ficção Científica Antares de Porto Alegre: Simone Saueressig, Gerson Lodi-Ribeiro, Miguel Carqueija, Jorge Luiz Calife e Roberto de Sousa Causo foram os nomes dessa turma que se firmaram nas páginas de fanzines e boletins de clubes de fãs, unindo-se a outros tantos, tais como José dos Santos Fernandes, Ivan Carlos Regina, Carlos Orsi Martinho, José Carlos Neves, Braulio Tavares, Finisia Fideli, Fabio Fernandes, Roberto Schima e muitos outros.
Entretanto, nesses dez ou doze anos de intervalo, a fc&f brasileira não foi abandonada totalmente. Apesar dos especialistas terem reduzido sua presença editorial durante os piores anos da ditadura militar, outros escritores não necessariamente identificados com o gênero perceberam na literatura de fantasia uma ótima maneira de contornar as redes da censura e dizer o que pensavam a respeito daquele período tenebroso, uma vez que os órgãos de comunicação de massa eram bem mais vigiados do que os livros.
Chico Buarque de Holanda era então um compositor de sucesso, respeitado e prestigiado tanto pela elite intelectual quanto pelo povão, no Brasil e no exterior. Sua poesia de sentidos múltiplos agradava pela qualidade da composição e pela identificação imediata com o jeito brasileiro, somada a musicalidade criativa, belos arranjos e harmonias. Chico Buarque fazia então o que alguns classificavam como "música de protesto", embora sua responsabilidade artística não permitisse que o panfletarismo simplório dominasse o conteúdo criativo, como acontecia com outros compositores menos brilhantes.
Em 1974, no auge da repressão política, a editora carioca Civilização Brasileira, que já publicava o fantasista goiano José J. Veiga, levou às livrarias a primeira novela de Chico Buarque, Fazenda Modelo: Novela pecuária.
Trata-se de um texto obviamente alegórico, tal como também são suas poesias, que conta a ascensão e a queda de um projeto econômico e social dirigido por tecnocratas e financiado pelo capital estrangeiro.
A Fazenda Modelo era, a princípio, uma propriedade rural que, embora de grandes dimensões, não diferia em nada de qualquer outra propriedade agropecuária, com a boiada solta no pasto descuidado, sem nenhuma tecnologia ou acompanhamento técnico. A vida dos bois e vacas não era fácil, mas era tranquila e sem percalços. As rezes nasciam naturalmente, alguns meses depois de coitos igualmente naturais, a comida vinha diretamente do chão inculto, os carrapatos e as doenças eram um grande incômodo mas, enfim, não é assim em toda parte?
Então Juvenal, o bom boi, elegante e educado filho da pátria, é elevado a posição de conselheiro-mor da Fazenda Modelo e aos poucos implanta nela o milagre econômico que vai tirar a boiada do atoleiro e arremessá-la para o futuro glorioso. Assessorado por técnicos especialistas importados (todos curiosamente tendo o nome iniciados pela letra "K") Juvenal elege Abá como o semental-mor da Fazenda Modelo: boi forte e viril, apaixonado pela vaca Aurora, que viria ser a matriz criadora mais importante do projeto. Abá é isolado da vacada em um galpão absolutamente limpo e somente durante os períodos propícios de cobertura são trazidas as vacas para que ele as emprenhe. Alucinado de desejo por Aurora, que é a primeira vaca a entrar no touril, Abá vai trepando em cada uma das vacas que vem depois e garante dessa forma o sucesso da primeira geração de bezerros cientificamente selecionados da Fazenda.
Com o bom desempenho da vacada nas exposições, o sêmen de Abá torna-se o ouro branco de exportação da Fazenda Modelo, que passa a usar um processo eletrônico, sem contato físico, para colher o líquido de Abá, sendo as vacas  fertilizadas artificialmente.
Enquanto a Fazenda Modelo cresce e se desenvolve, com a instalação de fábricas de todos os tipos, estádios de primeiro mundo, monumentos a Juvenal, praças e fontes grandiosas, a vacada vai ficando cada vez mais triste. A poluição começa a envenenar a boiada mais simples, as reprodutoras entram em depressão pelo desaparecimento inexplicável de seus filhos, parando de aleitar e de emprenhar, e até Abá, viciado no aparelho de coleta de sêmen, envelhece precocemente. Lubino, seu sucessor, é apressadamente escolhido entre os touros da primeira geração. Mas Lubino não estava ainda preparado e a tragédia vai se abater sobre a Fazenda Modelo e seu grande projeto de desenvolvimento.
É interessante deixar-se levar pela fantasia de Chico Buarque, que modula a humanização/bovinização dos personagens conforme as circunstâncias dramáticas exigem.
Está claro que esta novela é uma alegoria da situação política brasileira em 1974, não muito disfarçada pelo cenário da Fazenda Modelo. Frases e atos de Juvenal têm paralelos óbvios na realidade histórica, e muitos leitores experientes na fc anglo-americana podem achar a leitura um tanto ingênua e previsível.
Mas Fazenda Modelo exemplifica uma das mais imediatas missões da arte e da literatura, qual seja, levar o leitor a refletir sobre a sua realidade objetiva. Nesse aspecto, é amplamente bem sucedida, pois a mensagem é clara e a leitura é facilitada por um texto que fala muito bem ao leitor comum que, em tese, é o seu público alvo. Contudo, Fazenda Modelo preserva os ideais do Modernismo e utiliza uma redação elaborada repleta de estruturas literárias criativas e coloquialismos intraduzíveis, que agradam também ao leitor sofisticado.
Ainda mais significativo é o fato de Fazenda Modelo ter aparecido em pleno cenário dos fatos que motivaram a sua composição. Não há dúvida que Chico Buarque e a editora Civilização Brasileira correram riscos sérios ao ousar sua publicação. Pode ser que Buarque tenha se escudado em sua fama maiúscula ou no auto-exílio que cumpriu no exterior. Mesmo assim, é espantoso que assim tenha sido.
Geralmente, espera-se que um autor literário demonstre alguma coragem para atacar os seus alvos e que, eventualmente, ponha a cabeça para fora da trincheira e dispare um tiro na direção deles. Isso já é suficiente para dar significado à obra para além do entretenimento frívolo e descartável ou do formalismo acadêmico, principalmente no caso da fc, tida como um gênero alheio à realidade. Ainda que possamos pinçar uns tantos bons exemplos, entre eles o próprio Fazenda Modelo, no que se refere a fc&f brasileira percebe-se que o preconceito justifica-se, infelizmente.
Apesar da tendência natural e quase inevitável da fc&f para o simbolismo, a caricatura e a alegoria, os autores brasileiros sempre demonstraram interesse especial pelo entretenimento do gênero, evitando a discussão de problemas contemporâneos em seus trabalhos. Investem na elaboração de utopias e conceitos tecnológicos fantásticos, lançando suas histórias em tempos distantes no passado ou no futuro, com protagonistas mitológicos, mecânicos ou alienígenas, de forma a fugir o mais possível do problemas do presente e dos mistérios da alma humana, alienando-se já no ato da composição da obra que, desse modo, distancia-se do leitor que não se identifica com ela quando publicada.
Um e outro ainda demonstram, eventualmente, coragem suficiente para dar aquela olhadela acima da trincheira, mas a grande maioria satisfaz-se em sentar num canto retirado, jogar baralho e apostar cigarros. Para eles a batalha, a realidade, sequer existe.
Exatamente por isso, Fazenda Modelo é leitura importante num gênero que ainda carece de uma profunda discussão existencial no País.

quinta-feira, novembro 14, 2013

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Comba Malina, Dinah Silveira de Queiroz

Qualquer obra que tenha ultrapassado os vinte anos tem seu valor histórico e ainda mais importante se torna quando o seu autor demonstrou capacidades literárias amplas dentro e fora dos gêneros fantásticos, como é o caso de Dinah Silveira de Queiroz, autora consagrada no mainstream, que tem em sua bibliografia textos importantes como Floradas na serra (1939) e A muralha (1954).
Dinah era uma escritora consagrada quando decidiu escrever fantasia, iniciando com o romance Margarida La Rocque (A ilha dos demônios), cuja primeira edição é de 1949 pela Livraria José Olympio Editora, e que, mais tarde, teria traduções em vários países. Não por acaso, Margarida La Rocque é o primeiro volume da Coleção Dinah Fantástica, que teve em seguida a edição de Comba Malina, coletânea de contos de ficção científica que é o assunto desta resenha.
A coletânea apresenta oito contos da autora, sendo três inéditos até então, nesta ordem: "Comba Malina", "Os possessos de Núbia", "O céu anterior", "A universidade marciana", "Anima", "A Ficcionista", "Eles herdarão a Terra" e "O Carioca".
O conto de abertura, que dá nome ao livro, é o melhor de todos. Escrito em 1968 para esta antologia, é o relato, em primeira pessoa, de um faxineiro cujo nome não nos é revelado. Por necessidade financeira, o narrador procura uma residência mais próxima ao banco onde cumpre expediente, e é atraído para um beco por uma insidiosa sequência musical. Quando se dá conta, está batendo à porta de um casario, que se trata justamente de uma pensão que tem uma vaga disponível a um preço muito baixo. O protagonista vê-se então colega de quarto do cientista aposentado Professor Sarmento, que desenvolve uma pesquisa histórica sobre o passado daquele velho casarão que, 250 anos antes, fora a Bodega da Comba Malina, uma cigana belíssima pela qual o Professor parecia ter fixação.
Ao longo dos dias e noites que ambos compartilham, o faxineiro começa a participar das investigações do cientista, que tem uma teoria inusitada sobre o tempo e desenvolveu um dispositivo que permite a visualização do passado. Quando o protagonista finalmente experimenta a viagem e vê Comba Malina, apaixona-se perdidamente por ela, o que será a sua ruína. O desfecho assemelha-se a algumas histórias do escritor americano H. P. Lovecraft, porém com amplas referências ao candomblé, que dá um charme especial ao conto, numa das mais pioneiras manifestações da antropofagia modernista na fc brasileira.
A seguir temos "Os possessos de Núbia", também um conto inédito escrito em 1968 para esta antologia. Bruno é um imigrante em Núbia, planeta inóspito que abriga uma colônia de humanos. Ele foi para lá para dar a sua família uma vida melhor, uma vez que os imigrantes recebiam uma generosa indenização pelos vinte anos, no mínimo, que cada colono teria de passar no planeta. Porém Bruno não foi só pelo dinheiro. Ele se sentia incomodado com os desejos da esposa em ter filhos de forma natural, quando há muito tempo isso não era mais o costume, sendo as crianças todas geradas em úteros artificiais de porcelana.
Núbia apresentava sempre a mesma face para o sol local. Era impossível viver tanto na sua face iluminada, muito quente, quanto no lado escuro, muito frio. A colônia situava-se, portanto, numa estreita faixa de crepúsculo, onde as temperaturas eram suportáveis. A colônia nunca fizera contato com qualquer forma de vida local, mas isso iria mudar quando uma inesperada onda de calor intenso começou a varrer a superfície do planeta. Uma boa ideia desenvolvida nos moldes da Asimov e Bradbury. Porém, sem a precisão científica daquele e o lirismo deste, não repetiu o estilo brilhante visto no primeiro conto.
"O céu anterior" já havia sido publicado na antologia Histórias do acontecerá (GRD, 1961), e seria novamente compilado na antologia Enquanto houver Natal (GRD, 1989). No ano 3559, um astrônomo vê, através de um monitor especial, o céu do ano zero e fica perturbado ao ter uma visão mística com a imagem de uma "estrela que fala". Vai então passar férias num balneário subterrâneo, onde consultará um psiquiatra especialista em esgotamentos de astronautas. Como já se percebe, é uma história sobre o Natal, e seu final-surpresa não funciona porque é perfeitamente previsível antes da metade do conto.
Trata-se do conto mais fraco da antologia porque parte da premissa que dezesseis séculos no futuro ninguém mais se lembraria do Natal, sem dar uma explicação plausível de como isso poderia acontecer uma vez que o calendário usado ainda é o mesmo.
Muito melhor é o conto seguinte, "A universidade marciana", visto anteriormente na outra coletânea da autora, Eles herdarão a Terra (GRD, 1960).  O protagonista narrador também não tem seu nome revelado na história, mas trata-se de um morador da cidade do Rio de Janeiro, residindo no décimo andar de um prédio em ruínas numa Copacabana arrasada pela elevação do nível do mar. Em sua andanças solitárias pela orla decadente, é contatado por uma entidade alienígena que, entretanto, não lhe revela muita coisa.  Ele desenvolve uma filosofia sobre o modo de ser do homem brasileiro, a qual chama de "Carioquismo" e, por conta de sua repercussão, é convocado para ir ao Vaticano unir-se a um grupo heterogêneo formado por dezenove homens e mulheres cuidadosamente escolhidos para serem instruídos por seres superiores vindos do espaço, possivelmente marcianos – os mesmos que o contaram na praia. O Papa Pio XIII, um chinês, é um dos poucos líderes políticos do mundo a acreditar nos bons préstimos desses alienígenas e aproveita o fato do Vaticano ser o único estado murado do mundo para abrigar, sob sigilo, essa verdadeira universidade. Esses vinte homens e mulheres serão confrontados aos alienígenas e suas estranhas filosofias, mas os marcianos também serão irremediavelmente afetados pelos conceitos humanos.
A autora constrói uma bela narrativa, com descrições vivas e detalhadas do Vaticano e, sem apelar para qualquer dos recursos costumazes da ficção científica, elabora um trabalho perturbador e de profundo lirismo.
"Anima" é o terceiro conto inédito da coletânea, tal como os outros escrito em 1968. Jorge Alves é um cientista pesquisador da alma humana, que propõe na Assembleia Geral da ONU que a comunidade internacional participe do esforço brasileiro em enviar uma missão "espiritual" ao planeta Vênus. A princípio ridicularizado, o método demonstra-se eficiente e uma equipe de cinco astronautas, entre eles o próprio Jorge Alves, despacha seus espíritos para Vênus e lá passam três dias em expedições de reconhecimento visual, uma vez que não podem interagir fisicamente. Entre esses astronautas está uma jovem que sofre de uma doença terminal e, no momento da volta, ela decide permanecer em Vênus, abandonando a existência física que, de qualquer forma, seria bastante breve, e com isso desequilibra toda a equipe. Uma ideia interessante, ainda que não de todo original, desenvolvida com sensibilidade porém sem apresentar uma personalidade mais definida.
"A Ficcionista" é o conto mais longo do livro, já visto na Antologia brasileira de ficção científica (GRD, 1961). É narrado em primeira pessoa por um homem criado em laboratório, um cidadão de segunda classe adotado como assistente pelo cientista e engenheiro Jonas André Camp, que desenvolve um sistema de comunicação audiovisual que fala diretamente ao cérebro, conseguindo dessa forma uma integração quase real com o expectador. O invento entusiasma Sálvio Marconi, proprietário de uma das maiores emissoras de tv concreta (uma espécie de tv 3D), que financia a instalação da máquina, chamada de Ficcionista. A nova mídia é um sucesso de público e crítica, e rapidamente fagocita todas as outras. levando a humanidade para uma existência passiva de tragédia iminente.
O conto apresenta a função de amarragem do livro, pois alguns dos seus elementos principais, como a tv concreta, por exemplo, aparecem nos demais. Também é metalinguístico, uma vez que trata do trabalho do escritor, da maneira como os escritores se comportam e da relação da arte de massa com o público consumidor. Há muitos mais conceitos filosóficos que, embora não se aprofundem, não impedem que este seja um conto muito bom.
"Eles herdarão a Terra" é um conto de invasão marciana, o primeiro texto de ficção científica de Dinah, escrito em 1957 e primeiro publicado na revista Jóia, depois compilado na coletânea que lhe emprestou o nome, publicada em 1960 pela Editora GRD.
Marcos mora com seu idoso pai num farol isolado. O velho é fascinado por astronomia e passa as noites a observar o céu. Certo dia, o faroleiro decide trazer para o farol sua outra filha, Tuda, que será a catalisadora de uma tragédia cósmica. Quando o velho morre de infarto, Marcos assume suas funções até que seja nomeado um novo titular e, justamente num dia em que, depois de uma tempestade, o farol está mais isolado do que o normal, Marcos e Tuda recebem a visita de uma entidade estranha, bizarra, aparentemente pacífica mas que revela um sórdido plano de invasão e atira os irmãos num torvelinho de horror. Um conto perturbador, que dialoga com muitas outras obras da fc mundial.
O conto que fecha a edição é "O Carioca", que também faz parte da já citada coletânea Eles herdarão a Terra. O conto apresenta dois moradores do décimo segundo andar de um prédio recentemente construído, vazio de outros habitantes. O vigia do prédio, que ainda está em fase de acabamento, desliga a energia elétrica do prédio ao final do expediente e ambos têm de passar as noites sem luz e sem elevadores. Num desses dias, chegando atrasados, eles se conhecem ao subir os doze andares pelas escadas. Sendo um homem e uma mulher, ambos jovens, é fatal que se apaixonem. Ela é viúva e passou por uma séria provação quando da doença de seu falecido marido; ele é solteiro, mas tem uma profissão estranha: fabrica robôs e tem alguns deles em seu apartamento. A relação do casal de vizinhos é neurótica e as coisas se complicam mais quando o rapaz leva para casa seu robô mais sofisticado, o Carioca, que ele está prestes a vender para o exército. As máquinas são muito mais que simples mecanismos, tratam-se de inteligências artificiais primitivas e a convivência deles com a mulher vai trazer desentendimentos para a relação de ambos. Um conto maduro e muito bem realizado, como poucas vezes se viu na fc brasileira, com grandes doses de psicologia e drama humano.
Os jovens autores de fc teriam muito a ganhar com a leitura desta coletânea de uma das pioneiras da ficção científica brasileira que, não só, demonstra uma qualidade literária superior e sem pedantismo, um estilo amadurecido e o domínio dos conceitos e protocolos do gênero, mas inocula nos enredos altas doses de dramaticidade e psicologia, de problemas e preocupações humanas.
Não é, obviamente, uma fc de entretenimento, e isso vai desgostar aqueles que avaliam a qualidade de uma historia diretamente proporcional a sua capacidade de entreter, e inversamente a sua capacidade de perturbar. Dinah Silveira de Queiroz escreveu fc como gente grande e para gente grande.

Comba Malina, Dinah Silveira de Queiroz. Coleção Dinah Fantástica, Volume 2, Editora Loudes, Rio de Janeiro, 1969, 206 páginas.